Dentro do conceito de cafeicultura
racional o controle às pragas do cafeeiro ocupa lugar de destaque. O cafeeiro é
atacado por muitas pragas, que, se não combatidas devidamente, ocasionam
grandes prejuízos e em muitos casos limitando a produção.
O grau da importância das pragas
apresentadas nesta página varia com as diferentes regiões cafeeiras do país
sendo que o Bicho Mineiro, a Broca e Cochonilhas são problemas destacados,
praticamente em todas as regiões onde se cultiva o café; os Nematóides,
principalmente o M. incógnita, são problemas seríssimos no Paraná e São Paulo;
o M. exigua ocorre em São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de
Janeiro, Bahia e Ceará; ataques de ácaro vermelho e bicho mineiro tem se
intensificado com a utilização de fungicidas cúpricos, para o controle da
ferrugem do cafeeiro.
Deste modo, o controle às pragas deve
ser feito quando o seu nível populacional vai atingir o nível de dano
econômico, encaixando-se dentro do sistema de "Manejo de Pragas".
Sistemas de manejo de pragas visam
desenvolvimento de uma estratégia global de ação, que lança mão de um elenco de
táticas de controle, tais como vários métodos : químicos, biológicos,
culturais, uso de variedades resistentes ou de metas de interferências nos
processos fisiológicos e ecológicos dos insetos. Estas táticas são selecionadas
e integradas em programas harmônicos que tiram a máxima vantagem das
características das plantas e dos fatores naturais de mortalidade.
BICHO MINEIRO Perileucoptera coffeella )
Praga de origem africana, constatada no Brasil a
partir de 1851, quando aqui entrou, provavelmente através de mudas de café,
provenientes as Antilhas e da ilha de Bourbon. Atualmente encontra-se
disseminada por todas as regiões cafeeiras do país. É encontrada também em
muitos outros paises das Américas e da África, sendo talvez a praga cafeeira de
maior disseminação no globo. É uma praga monófaga, atacando somente o cafeeiro.
O Bicho Mineiro na fase adulta é uma
mariposa de cerca de 6,5 mm de envergadura e 2,2 mm de comprimento, de coloração
geral branco-prateado. As extremidades das asas anteriores apresentam faixas
amarelas orladas de preto e uma mancha ocelar também preta.
Durante o dia as mariposas escondem-se
na folhagem, instalando-se na página inferior das folhas do cafeeiro, ou de
outros vegetais. A tarde ou ao anoitecer deixam o abrigo e iniciam a postura,
na página superior das folhas do cafeeiro.
A lagarta ao nascer passa diretamente
do ovo para o interior da folha, alimentando-se então do tecido existente entre
as duas epidermes e deixando um vazio na área em que se nutriu.
As regiões destruídas vão secando e a
área atacada vai aumentando com o próprio desenvolvimento da lagarta. Esta
lesão é caracteristicamente denominada "mina", e pode ser reconhecida
pela facilidade em levantar-se sua película superior, observando-se desta forma
as lagartas e o espaço vazio deixado por elas.
É normal encontrar-se várias lagartas
numa mesma mina devido a coalescência de lesões.
A lagarta desenvolvida mede 4 a 5 mm de
comprimento e 0,75 mm de maior largura. Possui corpo achatado, levemente
amarelado e transparente; sai para o exterior por uma fenda em forma de
semi-circulo, que a lagarta faz na epiderme superior,e, em seguida, se
encrisalida na parte inferior desta mesma folha ou em outras mais próximas do
solo, e, neste caso, a elas chegam pendurando-se por um fio de seda produzidos
por ela.
Esta fase de desenvolvimento do inseto
(pupa ou crisálida) pode ocorrer também em folhas de outros vegetais, no solo,
em detritos ou folhas secas. É facilmente reconhecida pela presença de um
casulo em forma de X, feito pela lagarta, com fios de seda brancos, para proteção da pupa.
Os adultos surgem após o período pupal
e tem longevidade média de 15 dias embora possam viver mais de um mês. O ciclo
evolutivo varia, de acordo com a temperatura, de 19 a 87 dias.
O período de eclosão vai de 5 a 21
dias. Cada mariposa põe em média 36 ovos, no máximo 90 e no mínimo 3, podendo o
período de ovoposição chegar até 25 dias. A postura média por noite é de 7
ovos, colocados isoladamente um do outro. O período larval varia de 9 a 40 dias
e o período pupal de 5 a 26 dias. No campo, quando as condições são favoráveis,
chega a ocorrer 7 ou mais gerações por ano.
Os danos causados ao cafeeiro
verificam-se pela diminuição da área foliar fotossintética (ativa), e
principalmente pela queda de folha. O reflexo na produção é patente e
normalmente se caracteriza na próxima safra.
Dados sobre experiências realizadas nos
estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, revelaram uma redução de
37%, 53% e até 80% de capacidade produtiva do cafeeiro, respectivamente.
Os prejuízos causados pelo Bicho
Mineiro variam principalmente pela intensidade, duração do ataque e época de
ocorrência
BROCA ( Hypothenemus hampei )
Originária da África,
onde foi referida como praga em 1901 no Congo, a broca do café atingiu o estado
de São Paulo, por volta de 1913, em sementes importadas da África e de Java.
Somente a partir de 1924 foram sentidos os prejuízos causados pela praga,
constando-se então a sua gravidade. De São Paulo, a broca do café espalhou-se
por todas as regiões cafeeiras do pais.
O inseto, na sua forma adulta, é um
pequeno besouro de coloração escura e brilhante, tendo o corpo cilíndrico,
robusto, recurvado para a região posterior, com o primeiro seguimento do tórax
bem desenvolvido e recobrindo a cabeça.
O corpo é revestido de escamas e cerdas
e com os élitros sulcados longitudinalmente. A fêmea possui aproximadamente
1,65 mm de comprimento por 0,73 mm de largura. O macho é um pouco menor, tem as
asas rudimentares, não voando, vivendo no fruto onde se origina.
Cada macho copula com 10 fêmeas ou
mais, dentro do fruto. A razão sexual é de 1 macho para 9,75 fêmeas.
A fêmea fecundada
perfura o fruto na região da cicatriz floral ou coroa, fazendo uma galeria
através da polpa, ganhando o interior de uma das sementes. A larga, então, a
galeria, transformando-a em uma pequena câmara onde realiza a postura. A fecundidade
média das fêmeas é de 74 ovos (31 a 119 ovos) e a longevidade média, de 156
dias (81 a 282 dias).
A fêmea coloca 2 ovos por dia e o
numero de ovos por câmara dificilmente ultrapassa a 20.
O período médio de incubação dos ovos é
de 7,6 dias (4 a 16 dias).
O período larval é de 13,8 dias em
média (9 a 20 dias) e o período pupal de 6,3 dias em média (4 a 10 dias). O
número de gerações, em nossas condições, pode chegar até a 7 por ano, sendo que
4 a 5 evoluem no período de novembro-dezembro a julho-agosto.
O ciclo evolutivo médio da praga é de
27,7 dias (17 a 46 dias).
A broca ataca o café nos vários
estágios de desenvolvimento : frutos verdes, maduros e secos. Frutos chumbinhos
não são os preferidos, mas também são atacados. Neste estágio a praga faz uma
galeria rasa, ficando com a parte posterior do corpo para fora.
Ocorre quedas de frutos, mas via de
regra não ovopositam por estarem nos frutos muito aquosos. O ataque se acentua
na fase de granação e maturação.
Após a fêmea penetrar no fruto e fazer
galerias com a respectiva câmara de postura, surgem as larvas que vão destruir
total ou parcialmente a semente. Altas infestações diminuem a porcentagem de
grãos perfeitos e aumentam a de grãos perfurados, de escolha e de grãos
quebrados, determinando, em conseqüência, uma sensível perda de peso além do
mal aspecto e sabor. Normalmente um lote de café coco com 85% de infestação de
broca, apresenta uma perda de peso, após o beneficiamento, de aproximadamente
20%. Evidentemente infestações menores acarretam proporcionalmente menores
redução de peso.
Outro prejuízo atribuído a broca é
aquele referente a queda de frutos. Durante o desenvolvimento dos frutos
observou-se que a broca foi responsável pela queda de 46% dos frutos em um
cafezal com 61% de infestação no final da safra, e a proporção da queda entre
frutos broqueados e frutos sadios foi de 4,6 : 1 para aquela infestação,
verificando-se uma proporção de 3 por 1 entre frutos broqueados que caíram e
frutos broqueados que permaneceram.
A inferiorização do tipo é também um
dos prejuízo, pois a cada 5 (cinco) grãos perfurados atribui-se um defeito. Um
lote de café pode passar do tipo 2 ou 3 para o tipo 7 ou 8, devido
exclusivamente ao ataque da praga. Observa-se, portanto, que além de se ter
menor quantidade de café devida a redução do peso e à queda de frutos,
consegue-se menor preço pelo produto devido à perda da qualidade.
COCHONILHAS
Cochonilha Verde (Coccus viridis)
A cochonilha verde é um inseto oval,
achatado, tendo 2 a 3 mm de comprimento. É encontrada normalmente em ramos e
folhas novas, ao longo da nervura principal. Após sua fixação, o inseto perfura
as folhas com seu aparelho bucal e inicia a sucção da seiva. O seu período de
postura é de 50 dias e cada fêmea é capaz de colocar 150 ovos, neste período.
Reprodução sexuada ou partenogênica.
Cochonilha Branca ( Planococcus citri )
A cochonilha branca possui de 3 a 5 mm
de comprimento. Caracteriza-se por apresentar, lateralmente, 17 apêndices de
cada lado, de coloração branca pulverulenta e outros dois apêndices terminais
maiores que os laterais.
Localizam-se nos ramos mais novos,
folhas, botões florais e preferencialmente frutos, desde os estágios chumbinho
à maduro, instalando-se na base dos mesmos e nos pedúnculos. O ataque na
lavoura é facilmente reconhecido face à secreção de uma substância lanuginosa,
de cor branca, que serve para proteger os ovos junto ao corpo do inseto. As
formas jovens possuem coloração rosada e as adultas castanha amarelada.
Sua capacidade de ovoposição é cerca de
400 ovos e seu ciclo evolutivo completo é de 25 dias em média. Reprodução
sexuada.
Cochonilha da raiz ( Dysmicoccus cryptos )
Muito semelhante à cochonilha branca, a
cochonilha da raiz do cafeeiro na fase adulta mede de 2,5 a 3 mm de comprimento
por 1,5 a 2 mm de largura . Sob a cerosidade branca que a envolve, apresenta
uma coloração rosada ou ainda cinza esverdeada.
Esta espécie excreta um líquido
açucarado, que condiciona o desenvolvimento de um fungo do gênero Bornetina,
formando assim uma cripta sobre a colônia. A sucessão de criptas, também
chamadas pipocas, se apresenta com aspecto de nodosidade das raízes, e servem
para alojar o inseto.
Segundo os dados de Nakano (1972), o
inseto pode dar até 5 gerações anuais. Em um período de 52 dias cada indivíduo
pode dar origem a outros 253. Reprodução partenogenética.
Cochonilha de placa ( Orthezia praelonga )
A cochonilha de placa foi encontrada
atacando cafeeiros arábica no norte do Paraná (1979/80) e cafeeiros robusta no
Espírito Santo (1983). Esta é conhecida por apresentar placas ou lâminas
cérias, simetricamente disposta sobre o corpo, constituindo, na parte posterior
um saco cério calcáreo, semelhante a uma cauda, com o nome de ovissaco (4,5
mm).
Corpo com 2 mm de comprimento e largura
máxima de 2 mm. Ataca ramos, folhas e até frutos. Até o momento, apresenta
importância reduzida em café, devido a baixa freqüência de ocorrência;
entretanto é uma das pragas mais sérias de citrus.
Os danos causados por estes insetos
manifestam diretamente pela sucção contínua da seiva, contribuindo para o
depauperamento da planta, chegando até ao seu extermínio, conforme a gravidade
do ataque.
O definhamento da planta, manifesta-se
através do amarelecimento, queda de folhas, de frutos, chochamento de frutos e
seca de ponteiros. Naturalmente que estes sintomas vão aparecer com maior ou
menor intensidade, dependendo da capacidade de resistência de sugar a seiva e
da intensidade do ataque. Estes insetos segregam um líquido açucarado, que cai
sobre as folhas e serve como meio de cultura ao fundo chamado fumagina, que
reveste a folhagem de uma camada preta prejudicando a fotossíntese e a
respiração da planta.
As picadas sucessivas nas plantas podem
favorecer também a penetração de microorganismos, causadores de doenças. A
presença de formigas é uma constante nas áreas atacadas.
A cochonilha verde ocorre com maior
freqüência no período chuvoso, nos meses de novembro a janeiro. Quanto a
cochonilha branca, a época de maior incidência tem sido a partir de março, com
as primeiras estiagens : o ataque muitas vezes prolonga-se até o início da
estação chuvosa.
No caso da cochonilha de raiz os
sintomas de ataques são mais evidentes no inverno, quando ha problemas de falta
d'água e de menor circulação da seiva.
NEMATÓIDES
Os nematóides assumem importância
destacada na cafeicultura nacional. Normalmente o ataque ocorre em reboleiras, sendo a
sintomatologia da parte aérea mais evidente no período seco, devido à menor
circulação de seiva e menor quantidade de água disponível no solo.
Esses nematóides apresentam ataque mais
severo em regiões de solo arenoso, bem como em solos já degradados, com nível
baixo de matéria orgânica. Essas degradações provocam mudanças na biologia do
solo, que podem favorecer o aumento das populações destas espécies.
A espécie de maior importância é Meloidogyne incognita que, pela
agressividade dos ataques, ocasionam redução na produção e muitas vezes a
morte das plantas.
Seguem-se, em importância, as espécies M. exigua e M. coffeicola, que também reduzem a produção.
M. exigua : ocorre em todas as
regiões cafeeiras do Brasil principalmente nos estados de São Paulo, Rio de
Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia.
Admite-se a existência de duas ou três
raças fisiológicas desta espécie, afetando variedades de Coffea arábica, bem
como outras culturas : chá, pimentão, melancia, cebola e outras culturas e
importância econômica.
Produz pequenas galhas nas raízes
dos cafeeiros, facilmente visíveis, que entretanto podem passar despercebidas
quando as raízes sofrem dissecamento. As plantas infestadas apresentam o sistema
radicular reduzido e às vezes fendilhadas. A parte aérea pode apresentar-se
decadente com folhas cloróticas e queda de folhas, principalmente em períodos
de seca e frio.
M. incognita : constatada atacando cafeeiros arábica
nos Estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, além de numerosas progênies de
outras espécies de gênero Coffea.
No Espírito Santo aparece atacando
cafeeiros robusta e não os arábicas. Existem constatadas 4 - 5 raças deste
nematóide. As galhas produzidas por esta espécie são menores que as do M.
exigua. As raízes se apresentam engrossadas, com rachaduras e com o aspecto de
cortiça. Esse sintoma aparece ao longo das raízes, intercalado com partes
sadias. Clorose e depauperamento geral da planta são observados.
O M. incognita esta sendo considerado
como nematóide que causa maiores prejuízos à cafeicultura; além disso foi
também constatado que este nematóide é problema em inúmeras outras culturas
como : abóbora, algodão, feijão, trigo, etc.
Já foi constatado até o presente o seu
ataque nas seguintes ervas daninhas na região do Paraná, tais como : capim pé
de galinha, maria pretinha, fedegoso, marmelada de cavalo, mentrasto. É
provável que futuramente esta lista seja ampliada. Como podemos notar não é
fácil fazer rotação de culturas com café infestado de M. incognita
A disseminação dos nematóides do gênero Meloidogyne através da própria locomoção ( na
fase de larvas ) é lenta, sendo que os processos normais de cultivo das
lavouras podem contribuir para acelerar a disseminação através de :
a) Mudas infestadas : muito perigosas
devido a distância que podem ser transportadas pelos cafeicultores.
b) Água da chuva : as enxurradas
provenientes de estradas ou formadas na própria lavoura podem arrastar junto
com as partículas do solo as larvas e os ovos, que em condições propícias
contaminam os cafeeiros sadios.
c) Os implementos agrícolas e seus
operadores em suas movimentações, de lavouras infestadas para a sadia, podem acelerar
a disseminação do solo contaminado.
d) O plantio de mudas de Kiri ou de
outras essências, que estejam contaminadas com nematóides nocivos ao cafeeiro,
para quebra ventos ou em beira de carreadores, pode contaminar as lavouras de
café, principalmente o kiri, pois resta essência é multiplicada vegetativamente
( seções de raízes ) e já se constatou nela ataque de M. incognita e M.
arenaria.
Fonte: www.agrobyte.com.br
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