sexta-feira, 6 de julho de 2012

Empresa aposta no tomate enxuto para ganhar mercado


Produto com cerca de 70% menos água chega ao Brasil e promete inovar o mercado do fruto e o preparo de sanduíches e saladas

por Hanny Guimarães | Fotos Valter de Paula 
 
Editora GloboO produtor Edson Trebeschi nem bem começa a fatiar o tomate convencional que cultiva na propriedade em Araguari, no Triângulo Mineiro, a 30 quilômetros de Uberlândia, e a tábua de corte já está inundada com o líquido que escorre do fruto. Ao contrário, a nova variedade que começou a testar há dois anos, mas que só agora está pronta para chegar aos supermercados brasileiros, não faz nem sequer uma sujeira. O tomate Intense, como é chamado o produto desenvolvido pela Nunhems (unidade de sementes de hortaliças da Bayer CropScience), tem como principal característica a menor quantidade de água: cerca de 70% menos em relação às cultivares tradicionais. 
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O objetivo de Trebeschi é agregar valor com a produção de tomates especiais
Trebeschi foi longe para buscar a novidade. Ao participar de uma feira de hortaliças na Alemanha, ele conheceu o produto e se surpreendeu. Com o fruto enxuto, seria possível preparar sanduíches e saladas com mais praticidade, um desejo da cadeia de foodservice, e diminuir a lambança que os consumidores tanto temem quando vão fatiar um tomate em casa. Os prós eram tantos que a cultivar não saiu da cabeça do empresário. Já experiente no setor com a Trebeschi Tomates, onde produz e negocia, por ano, cerca de 77.000 toneladas de diversas variedades comerciais, ele resolveu apostar no Intense após ser procurado pela Nunhems para desenvolver o mercado da variedade no país. 

Contato feito, investimento – não divulgado pelas empresas – iniciado, restava trabalhar duro para validar a adaptação da planta nas condições de clima e solo do Brasil. Após o período, o produto, que chegou à Europa há quatro anos e seguiu para a Austrália e Estados Unidos, aportou por aqui. O Intense foi lançado em dezembro do ano passado na rede de supermercados Pão de Açúcar, ainda em caráter experimental, para avaliar a aceitação do público. Nas lojas, as promotoras de venda foram instruídas a cortar um tomate Intense e um outro comum ao meio e apertá-los ao mesmo tempo. A prova impressionava: do enxuto não caia mais que duas gotas de líquido. 
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O cultivo de Trebeschi Tomates é feito, até o momento, em quatro estufas
Além de menos água, o tomate, fruto de melhoramento genético, é mais firme, possui teor de açúcar elevado (grau Brix6) e tem mais polpa. Segundo Clóvis da Silva Nunes, gestor responsável por toda a produção de tomates especiais da Trebeschi, o produto ainda tem durabilidade maior, posto que o excesso de água é um dos fatores que diminuem o pós-colheita do fruto. Com formato que lembra um tomate italiano, a coloração é de um vermelho intenso e a semente é um pouco menor que a das variedades mais comuns. 

Tanto ganho assim tem preço. “O investimento para produzir o tomate Intense é 80% maior do que para cultivar o convencional”, diz Edson Trebeschi, sem mencionar valores. A plantação em ambiente controlado, com irrigação feita por sistema de gotejamento, diminui, segundo ele, o uso de defensivos. “Destinamos, neste primeiro momento, quatro estufas, com 12 mil plantas, para o projeto. O cultivo controlado é importante para variedades especiais. Podemos fazer uma melhor aplicação de nutrientes e conseguimos diminuir a incidência de pragas e os riscos que podem ocorrer durante o período de crescimento da planta e maturação do tomate”, afirma. O custo de mão de obra também é maior, pois exige mais profissionais dedicados exclusivamente à produção. 
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Atualmente, Trebeschi tem conseguido alcançar uma produtividade média por planta de 8 quilos por ciclo – a cada 90 dias tem uma estufa colhendo. A meta, no entanto, é chegar a 13 quilos por planta, de acordo com Luís Tessani, da Nunhems. “Tivemos uma ótima aceitação no mercado e temos a oportunidade de crescer em parceria com o produtor”, explica. A princípio, é a Nunhems que prospecta agricultores para cultivar o Intense. Segundo Tessani, a empresa de sementes pede, entre os requisitos para produzir o material, que o agricultor já trabalhe com o varejo, busque sempre melhorias e seja inovador. Qualidade atrelada ao trabalho de Trebeschi. O cultivo de variedades especiais já soma 5.000 toneladas por ano em seu portfolio. O empresário acredita no nicho e diz que é a forma de agregar valor aos produtos. “O Brasil tem muito a melhorar no consumo da hortaliça. Enquanto na Turquia cada pessoa consome 86 quilos de tomate por ano, em nosso país isso cai para 18 quilos por pessoa a cada ano. O brasileiro tem mania de grandeza, gosta de produtos grandes, mas geneticamente é mais fácil levar sabor a um produto médio, e é isso que estamos buscando: além de materiais diferentes, sabor”, comenta. 
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