segunda-feira, 21 de outubro de 2013

IAC faz descoberta inédita em citros

Molécula já usada na saúde humana é aplicada para controle de doença de citros

por Globo Rural On-line
Ernesto de Souza
Novo produto não se mostra prejudicial ao homem (Foto: Ernesto de Souza/ Ed. Globo)















O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) fez uma descoberta por meio do seu Centro de Citricultura “Sylvio Moreira”. Uma molécula usada para tratamento de infecções bacterianas as vias aéreas de humanos mostrou-s eeficiente no controle de fitopatógenos dos citros, incluindo a Xylella fastidiosa. 

A novidade é o fato de o controle ser feito não comagrotóxicos, mas com princípio ativo de medicamentos. “O trabalho é inédito, pois apesar de essa molécula ser usada na medicina, nunca foi testada para combater doenças de planta”, diz Alessandra Alves de Souza, pesquisadora do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento. 

A pesquisadora diz que a importância da descoberta está no novo uso do produto com menor impacto ambiental, já usado como medicamento, o que mostra não ser prejudicial para o homem. “Ressaltamos que a dose usada na planta é bem menor do que a usada em seres humanos. Essa molécula também é usada para combater os radicais livres e ajuda na prática de exercícios físicos”, explica. A equipe fez pedido de patente para a descoberta no Brasil e no exterior. 

Pesquisadores avaliaram a molécula como estratégia para inibir ou desagregar o biofilme bacteriano da Xylella fastidiosa, causadora da Clorose Variegada dos Citros (CVC), e o da Xanthomonas citri, causadora do cancro cítrico. O biofilme formado pela bactéria Xanthomonas fica na superfície das folhas e o constituído pela Xylella se instala dentro da planta. 

Segundo a pesquisadora, no caso da Xanthomonas citri, esse biofilme protege as bactérias de estresses ambientais como calor e raios UV, e de compostos antimicrobianos que possam afetar o desenvolvimento da bactéria, dentre eles o cobre, normalmente empregado no controle químico da doença. 


Método
A pesquisa no Centro de Citricultura do IAC buscou uma estratégia para retardar ou inibir a formação dessa capa protetora nas folhas antes da infecção, a fim de tornar a Xanthomonas mais vulnerável. Assim, a bactéria ficaria mais suscetível aos estresses ambientais e aos compostos antimicrobianos. Consequentemente, seria reduzida também a quantidade de produtos químicos e os focos da doença. “Com esse objetivo, avaliamos o análogo de aminoácido, o N-acetil-cisteína, chamado NAC, um agente com propriedades antibacterianas e que reduz a formação de biofilme em várias bactérias, principalmente causadoras de doenças em seres humanos”, explica. 

A pesquisa foi desenvolvida inicialmente em plantas com CVC e que receberam NAC com aplicações do produto por diferentes sistemas, como hidroponia e fertirrigação. Nesses casos, a doença voltou três meses após a interrupção do tratamento. Foi avaliado também o uso do NAC acoplado a um adubo de liberação lenta, situação em que a doença retornou apenas seis meses após a interrupção do produto. “Isso indica que o produto deve ser aplicado temporalmente, mas que dependendo da forma de aplicação os intervalos de aplicação poderão ser maiores”, diz. 

O estudo teve duração de quatro anos. “Os resultados mostram que esta molécula não só reduziu a quantidade de bactérias (Xylella fastidiosa) capazes de colonizar o xilema das plantas, como também foi capaz de reverter os sintomas de plantas com CVC. No caso da Xanthomonas, o NAC teve efeito de desprendimento da comunidade bacteriana que vive sobre as folhas”, explica. Segundo Alessandra, a aplicação de N-acetil-cisteína com cobre reduziu em até mil vezes a concentração de bactérias nas folhas. “Daí concluímos poder se tratar de nova estratégia de manejo do Cancro Cítrico.” 

Apesar de os experimentos serem feitos em condições controladas, em laboratórios e casa de vegetação, o custo final do uso dessa molécula é bastante viável. “Lembrando que o tratamento atual para CVC é à base de inseticida, o que além de alto custo, tem um alto impacto ambiental”, diz a pesquisadora. 

A equipe segue estudando novas formas de aplicação do NAC a fim de encontrar respostas ainda mais eficientes. Os próximos passos envolvem testes em campo para controle da CVC e testes em casa de vegetação para controle do Cancro Cítrico e HLB (Greening). O IAC oferecerá também apoio a outros grupos para testes em outras culturas. A pesquisa tem apoio dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) de Genômica para Melhoramento de Citros, sob a coordenação do pesquisador e diretor do Centro de Citricultura, Marcos Antonio Machado.

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