Os produtores de soja e a comunidade científica buscam estratégias de
manejo com objetivo de identificar os períodos de semeadura de menores riscos
climáticos e maior rentabilidade. "Além das condições climáticas,
características específicas das cultivares também podem ser utilizadas no
manejo da cultura da soja, como os níveis de tolerância ao déficit hídrico.
Assim, as condições climáticas e de tolerância ao déficit hídrico das
cultivares de soja podem ser consideradas em modelos de estimativa de produtividade,
auxiliando na definição das épocas de preferências de semeadura", explica
o engenheiro agrônomo Rafael Battisti. A
soja é a cultura agrícola que ocupa a maior área de cultivo no Brasil. No
entanto, o déficit hídrico é um fator que limita sua produtividade.
No Programa de pós-graduação de Engenharia de Sistemas Agrícolas, da Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) daUniversidade de São
Paulo (USP), em Piracicaba, Battisti buscou calibrar um modelo
agrometeorológico para a estimativa da produtividade da soja e, posteriormente,
aplicá-lo em diferentes regiões brasileiras para definir as épocas preferenciais
de semeadura, levando-se em consideração também os custos de produção.
Com orientação do professor Paulo Cesar Sentelhas,
do Departamento
de Engenharia de Biossistemas (LEB), o pesquisador promoveu, em
síntese, o levantamento de dados, a calibração do modelo da Zona Agroecológica
-- FAO para estimativa da produtividade da
soja, e a simulação das datas preferenciais de semeadura.
Os dados climáticos para o desenvolvimento do trabalho foram obtidos junto ao Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet), na Agência Nacional de
Águas (ANA) e na Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), enquanto que
dados de produtividade da soja foram obtidos junto a Fundação Pró-Sementes.
"Após a organização dos dados foi realizada a calibração e validação do
modelo de estimativa de produtividade, que consiste em ajustar coeficientes
intrínsecos do modelo e verificar sua eficiência na estimativa da produtividade
para diferentes condições de cultivo", explica Battisti.
Na sequência, a pesquisa estimou a produtividade para as regiões produtoras de
soja no Brasil e, com base na probabilidade de produtividade, condições
climáticas e custo de produção local, definiu períodos favoráveis e de maior rentabilidade
para a realização da semeadura da soja. De acordo Battisti, atualmente o
zoneamento agrícola, desenvolvido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), define datas de semeadura para a cultura
da soja considerando apenas a disponibilidade hídrica durante a fase de floração/enchimento
do grão da cultura.
"Sabe-se que condições climáticas durante as demais fases de
desenvolvimento também podem afetar o desenvolvimento e crescimento da cultura.
Por isso definimos as épocas de semeadura para a soja, utilizando modelos de
simulação de produtividade, com base na probabilidade de produtividade a ser
alcançada em cada região e o custo de produção, já que condições de déficit
hídrico podem reduzir a produtividade, mas mesmo assim o produtor rural ter
retorno econômico".
O trabalho teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e
Tecnológico (CNPq) e, com as simulações de produtividade e a probabilidade de
produção para cada local, o estudo indica que o produtor rural pode realizar o
planejamento a curto, médio e longo prazo. As datas de semeadura recomendadas
por este trabalho e pelo zoneamento agrícola de risco climático do MAPA tiveram diferenças, principalmente, nos
períodos iniciais e finais da janela de cultivo da cultura da soja, diferenças
variáveis de acordo com a localidade estudada.
"Verificou-se que o uso de modelos de estimativa de produtividade e custo
de produção tem potencialidade para definir épocas preferenciais de semeadura
para a cultura da soja, frente à metodologia utilizada no zoneamento de risco
climático do Mapa, tendo por base aspectos agronômicos e econômicos da
cultura", avalia Battisti.
Finalmente, o autor do trabalho reforça que é importante destacar que as
simulações realizadas consideram condições médias e com base nos critérios
pré-estabelecidos. "Com isso, condições locais de cultivo, custo de
produção, preço de comercialização do produto e a interação entre genótipo e
ambiente podem influenciar os resultados, fazendo com que uma simulação
direcionada a cada propriedade rural possibilite expressar de forma mais
eficiente os resultados e as estratégias de semeadura", conclui.
FONTE
Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
Assessoria
de Comunicação da Esalq
Caio Albuquerque -
Jornalista
Telefones: (19) 3447.8613 ou (19) 3429.4109
E-mail: acom@esalq.usp.br
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