segunda-feira, 1 de abril de 2013

CLIMA: O INSUMO INDISPENSÁVEL


Por Marco Antônio dos Santos 
Agrometeorologista da Somar Meteorologia
A maioria dos produtores nunca pensa no clima ou como ele irá se comportar antes de se iniciar na safra. Quase que a unanimidade só pensa em que semente irá adquirir ou que fertilizantes ou defensivos irão comprar para a safra. Porém, de todos esses insumos tão importantes para o sucesso do produtor, o clima é sem duvida o mais importante, contudo, infelizmente não dá para ir a loja e adquiri-lo.
Exemplos típicos disso são as perdas causadas pelo excesso de dias chuvosos sobre a safra de soja em Mato Grosso no início do ano, pois muitos produtores com o afoito de plantar a 2ª safra plantaram suas variedades de soja para serem colhidas nesse período, e se esqueceram de que em anos de La Niña a possibilidade de que ocorram longos períodos de invernadas é muito grande, principalmente entre janeiro e fevereiro.
Outro exemplo foi em 2010, com a mesma 2ª safra, quando, num ano cujo regime de chuvas está sendo regido pelo El Niño, é certo de que as chuvas acabem bem mais cedo no outono. Dito e feito: as perdas naquela safra ultrapassaram os 30%. Sabendo de tudo isso, fico aqui pensando que ninguém plantou alguma variedade de soja, cujas principais características sejam uma maior tolerância ao excedente hídrico só porque sabia que o verão seria extremamente chuvoso ou que não iriam plantar suas lavouras de milho e/ou algodão após a janela ideal, uma vez que estava previsto o corte prematuro das chuvas. Mas, como meu mestre em agrometeorologia Marcelo Bento Paes de Camargo ensinou-me, o clima é à base de toda a cultura. Pois de nada adianta ter a melhor variedade, melhor solo e a melhor tecnologia, se o clima não ajudar...

No Brasil, mesmo o Centro-Oeste e Sudeste, que tiveram em 2012 um clima excepcional para os grãos, as Regiões Sul e Nordeste sofreram os impactos terríveis da seca, gerando enormes prejuízos. E é esse clima de incerteza que move o mercado hoje em dia. Ministrando uma palestra num dia desses em São Paulo, CEO de uma grande trade proferiu o seguinte comentário: "O mercado está a cada dia muito mais climático". E isso é uma verdade. A cada susto que o clima nos prega, seja positivo ou negativo, rapidamente o mercado o absorve e transfere aos preços das commodities, levando a queda ou elevação de seus preços no cenário mundial.
Para que não sejamos pegos nessa ciranda climática, o acompanhamento das condições climáticas, não só da nossa região, como em todo o Brasil e inclusive no mundo, faz-se cada vez mais necessário. Com o advento da tecnologia e a aquisição de supercomputadores, os modelos climáticos estão cada vez mais precisos e confiáveis.
O grande problema no Brasil ainda continua sendo a aferição desses parâmetros, ou seja, Estações Meteorológicas, cujo número está muito aquém do ideal. Elas não são capazes de fazer a previsão, mas servem de base para que os modelos consigam ver onde estão errando e onde estão acertando e ficar cada vez mais precisos em suas decisões.
Além de tudo isso, tem ainda a mão do meteorologista, um profissional apto a interpretar todos os "sinais" da atmosfera e traduzi-lo para uma linguagem comum, para que o mais comum dos usuários possa saber, numa linguagem simples, como será o tempo hoje e nos próximos dias, além do que, para alguns, o momento não interessa tanto, o que necessitam é saber como será o clima num horizonte ainda mais distante – 6 a 12 meses. E é aí que o meteorologista realmente se faz necessário, pois só ele poderá traduzir o que os modelos climatológicos de longo prazo estão dizendo. Até porque, além da falta de estações meteorológicas para cobrir todo o território nacional, ainda temos que lidar com os fenômenos climáticos El Niño e La Niña, que tanto mexem nos regimes de chuvas e temperaturas do planeta. Dependendo da época e da intensidade em que aparecem, podem causar sérios danos ou até mesmo benefícios à agricultura.
Esses fenômenos climáticos provocam mudanças nos regimes de chuvas e temperaturas também na América do Norte, África e Ásia, causando danos ou benefícios à produção agrícola dos países desses continentes. E, consequentemente, mexendo nos preços das commodities. Acima de tudo isso, está uma variável ainda mais drástica que é a Oscilação Decadal do Oceano Pacífico, regido por inúmeros fatores, sendo um deles a atividade solar.
Quando o sol entra numa fase mais fria, a perspectiva para os próximos anos é que ocorra muito mais fenômenos La Niña do que El Niño e isso tem seus impactos, como reduções nos volumes anuais de chuvas, temperaturas mais baixas do que o normal. O mesmo acontece quando essa oscilação está positiva, ou seja, quando o sol está mais quente, imitindo mais radiação solar. Quando isso ocorre, espera-se mais El Niño do que La Niña.
Acabamos de entrar numa nova fase fria, igual à que foi observada entre os anos de 1947 a1976, quando o Brasil registrou um decréscimo de 10% a 30% nos volumes anuais de chuvas, além da uma maior ocorrência de geadas. Teremos então que mudar nossa maneira de produzir? Não. Apenas teremos que analisarmos melhor as previsões meteorológicas de médio e longo prazo, já que numa fase mais fria, os volumes totais de chuvas nas estações de transição – primavera e outono – deverão ficar abaixo da média, na maioria dos anos. Sendo que, no verão, as chuvas irão ficar mais concentradas no Centro-Oeste e Sudeste e no inverno no Sul e Nordeste do Brasil. Isso poderá trazer sérias consequências para a geração de energia elétrica. Além de que o uso de variedades de ciclo mais curto poderá ser a chave para o sucesso em anos que as características climáticas sejam essas. E dessa forma, o profissional de meteorologia deverá ser ainda mais valioso, já que só ele poderá elucidar tais oscilações.
E para quem está lendo esse texto e pensando que a meteorologista só afeta o dia a dia da agricultura se engana. As condições climáticas influenciam todas as áreas da economia, como as vendas de bebidas e de alimentação, vestuário, vendas de eletrodomésticos, como ventiladores e ar condicionados, na geração de energia elétrica, até mesmo na venda de remédios, como para resfriados. Atrás de tudo isso, está o profissional em meteorologia, que tem que ser no fundo um consultor em todas essas áreas.
Assim, para quem não quer perder nada sobre o que está acontecendo e o que acontecerá com o clima no mundo, no Brasil e, é lógico, na sua região, acesse os diversos sites meteorológicos que estão disponíveis na internet, como Somar, CPTEC, NOAA, entre outros. Além disso, fique por dentro nos boletins meteorológicos divulgados diariamente nas TVs, que servem de apoio a você, produtor, que leva a sério a arte de produzir alimento. E nunca se esqueça do meteorologista, principalmente nesse dia 23, que é o seu dia! Parabéns a todos esses profissionais.


FONTE: Rural BR Tempo

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