Pesquisadora trabalha no desenvolvimento de variedades geneticamente modificadas para garantir futuro desse biocombustível
por Viviane Taguchi A transgenia, método pela qual se modificam os genes de uma planta para alterar suas propriedades, certamente chegará ao setor sucroalcooleiro dentro de 10 anos para garantir a oferta de etanol para os mercados interno e externo. É o que estima a cientista e pesquisadora do Centro de Tecnologia Canavieira, CTC, de Piracicaba (SP), Sabrina Moutinho Chambregas. Até hoje, segundo ela, não existe no país nenhum pé de cana-de-açúcar transgênica plantado comercialmente, mas as pesquisas para isso vem sendo desenvolvidas desde o ano de 1994.
De acordo com a pesquisadora, somente nos campos experimentais em Piracicaba, mais de 30 mil plantas estão sendo avaliadas e testadas em estufas e a fase de testes em lavouras ainda está no início. "Este processo leva, em média, 20 anos, pois temos que considerar que a cana é uma cultura de longo prazo, os testes precisam ser rígidos e a aprovação para a comercialização, no Brasil, é extremamente rigorosa", diz Sabrina. Até agora, nenhum exemplar está em vias de ser aprovado pela Comissão Nacional de Biotecnologia, CNTBio, mas os resultados obtidos em laboratório estão sendo satisfatórios, segundo ela.
Os estudos acerca do desenvolvimento de cana-de-açúcar transgênica seguem duas vertentes. Uma delas é a identificação de Marcadores Moleculares (MM), que auxiliam os programas de melhoramento genético das plantas. "Através dos marcadores, nós podemos identificar detalhadamente o genótipo da planta. É como se obtivéssemos a impressão digital de cada planta", explica. A outra linha de pesquisa busca a obtenção de um organismo geneticamente modificado (OGM) para plantio comercial.
A pesquisadora conta que o principal objetivo é obter uma variedade OGM de cana com altos teores de sacarose, que também seja tolerante à seca, a herbicidas, insetos, doenças e pragas. "Em uma primeira geração de plantas, buscamos altos teores de açúcar, resistência a insetos como as brocas e aos herbicidas. A segunda geração destas plantas buscará aumento de produtividade e tolerância à seca, às adversidades climáticas", diz ela. "E, por último, a terceira geração buscaria elevar a eficiência do cultivo como um todo e nos oferecer enzimas e novas possibilidades de desenvolvermos produtos à base de cana, que é ecologicamente correta".
Alimentos e energia
André Abreu, diretor da Bayer para a América Latina, é um dos parceiros do CTC na busca pela cana transgênica. Ele defende a expansão vertical da lavoura como um trunfo da agricultura para atender a demanda global por alimentos, e também, por energia. "Somente com o desenvolvimento tecnológico conseguiremos dar conta de atender a demanda global por alimentos e por energia. E será através da expansão vertical (elevar apenas a produtividade e não a área plantada) que conseguiremos criar um sistema de produção sustentável", diz Abreu. "E por mais que as pessoas associem a cana ao combustível, que não é um alimento humano, não podemos esquecer que o açúcar é fundamental para o homem". Abreu também lembra que, um sistema sustentável, não quer dizer apenas que seja ecológico, mas que agregue valores econômicos, sociais e ambientais.
Atualmente, o Brasil é o segundo país que mais produz OGM no planeta, atrás dos Estados Unidos. Luis Louzano, diretor da BASF na América do Sul, lembra que a CNTBio já aprovou cinco variedades transgênicas de soja, 18 para o milho, oito para o algodão e, mais recentemente, uma de feijão. De toda a produção de grãos nacional, 76% da soja, 26,7% do algodão e 55% do milho, considerando as duas safras, são transgênicos.
Louzano diz, porém, que chegar a aprovação da entidade requer um trabalho extremamente rigoroso. "É natural que a opinião pública critique as pesquisas acerca dos organismos geneticamente modificados, pois ainda há falta de esclarecimento sobre o que é isso", diz ele. "No entanto, precisamos lembrar que é preciso incrementar a produtividade das lavouras para continuarmos
produzindo sem destruir o resto da natureza do planeta", afirma o executivo.
Os dois executivos afirmam que a legislação brasileira é uma das mais rigorosas do planeta em relação à aprovação de OGM's e as pesquisas para isso recebem milhares de dólares de investimento e levam anos. "As pessoas não têm idéia do que é a agricultura. Muita gente ainda pensa que a natureza faz tudo, que o homem não pode interferir, mas é o contrário. Se o
homem não interferisse, ninguém teria o que comer hoje".
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