
Caatinga (do Tupi: caa (mata) + tinga (branca) = mata branca) é o único bioma exclusivamente brasileiro, onde grande parte do seu
patrimônio biológico não pode ser encontrado em nenhum outro lugar do planeta.
A caatinga ocupa uma área de cerca de 750.000 km², cerca de 10% do território
nacional, englobando de forma contínua parte dos estados do Maranhão, Piauí,Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia (região Nordeste do Brasil) e parte do
norte deMinas Gerais (região
Sudeste do Brasil) (SILVA, 2003).
1.1- CARACTERIZAÇÃO DO BIOMA CAATINGA
Segundo Sampaio et al. (2000) a caatinga caracteriza-se como:
Apresenta uma vegetação típica de regiões semi-áridas com perda
de folhagem pela vegetação durante a estação seca. A vegetação da caatinga
também não é tão uniforme como se pensa. Tem, pelo menos, três níveis. O
primeiro é arbóreo, com uma altura variada de oito a doze metros, árvores de
ótimo porte; o segundo é arbustivo, com uma altura de dois a cinco metros; o
terceiro é herbáceo, com menos de dois metros. É uma vegetação que se adaptou
ao clima. No tempo da seca, perde as folhas, mas não morre; adormece, hiberna.
Várias plantas armazenam água, como o umbuzeiro, que tem batatas nas raízes,
onde guarda reservas para os tempos secos. Muitas têm raízes rasas,
praticamente captando a água na superfície, no momento da chuva.
Tem uma fisionomia de deserto, com índices pluviométricos muito
baixos, em torno de 500 a 700 mm anuais. Em certas regiões do Ceará, por
exemplo, embora a média para anos ricos em chuvas seja de 1.000 mm, pode chegar
a apenas 200 mm nos anos secos. A temperatura se situa entre 24 e 26 graus e
varia pouco durante o ano. Além dessas condições climáticas rigorosas, a região
das caatingas está submetida a ventos fortes e secos, que contribuem para a
aridez da paisagem nos meses de seca.
O mês do período seco é agosto e a temperatura do solo chega a
60ºC. O sol forte acelera a evaporação da água das lagoas e rios que, nos
trechos mais estreitos, secam e param de correr. Quando chega o verão, as
chuvas encharcam a terra e o verde toma conta da região.
Quando chove, no início do ano, a paisagem muda muito
rapidamente. As árvores cobrem-se de folhas e o solo fica forrado de pequenas
plantas. A fauna volta a engordar. Através de caminhos diversos, os rios
regionais saem das bordas das chapadas, percorrem extensas depressões entre os
planaltos quentes e secos e acabam chegando ao mar, ou engrossando as águas do
São Francisco e do Parnaíba (rios que cruzam a Caatinga). Porém, o solo raso e
pedregoso não consegue armazenar a água que cai e a temperatura elevada (médias
entre 25oC e 29oC) provoca intensa evaporação. Por isso,
somente em algumas áreas próximas às serras, onde a abundância de chuvas é
maior, a agricultura se torna possível.
1.2 - CARACTERIZAÇÃO DOS SOLOS DA CAATINGA
Conforme o Sistema Brasileiro de classificação de solos (1999)
de forma geral, o solo é raso, rico em minerais, mas pobre em matéria orgânica,
já que a decomposição desta matéria é prejudicada pelo calor e a luminosidade,
intensos durante todo ano na caatinga. Fragmentos de rochas são freqüentes na superfície, o que dá ao
solo um aspecto pedregoso. Este solo com muitas pedras dificilmente armazena a
água que cai no período das chuvas. Há vários tipos diferentes de rochas. Nas áreas de planície as
rochas são cobertas por uma camada de solo bastante profunda, com afloramentos
rochosos ocasionais, principalmente nas áreas com maiores altitudes. Tais solos
(latossolos) são solos argilosos (embora a camada superficial possa ser arenosa
ou às vezes pedregosa) e minerais, com boa porosidade e rico em nutrientes.
Afloramentos de rocha calcárea de coloração acinzentada ocorrem a oeste. A região planáltica é composta de arenito metamorfoseado
derivado de rochas sedimentares areníticas e quartzíticas, uma concentração
alta de óxido férreo dá a estas rochas uma cor de rosa a avermelhada. Os solos
gerados a partir da decomposição do arenito são extremamente pobres em
nutrientes e altamente ácidos, formando depósitos arenosos ou pedregosos rasos,
que se tornam mais profundos onde a topografia permite; afloramentos rochosos
são uma característica comum das áreas mais altas. Estes afloramentos rochosos
e os solos pouco profundos formam as condições ideais para os cactos, e muitas
espécies crescem nas pedras, em fissuras ou depressões da rocha onde a
acumulação de areia, pedregulhos e outros detritos, juntamente com o húmus
gerado pela decomposição de restos vegetais, sustenta o sistema radicular
destas suculentas.
A presença de minerais no solo da caatinga é garantia de
fertilidade em um ambiente que sofre com a falta de chuvas. Por isso, nos
poucos meses em que a chuva cai, algumas regiões secas rapidamente se
transformam, dando espaço a árvores verdes e gramíneas.A caatinga é coberta por solos relativamente férteis. Embora não
tenha potencial madeireiro, exceto pela extração secular de lenha, a região é
rica em recursos genéticos, dada a sua alta biodiversidade. Por outro lado, o
aspecto agressivo da vegetação contrasta com o colorido diversificado das
flores emergentes no período das chuvas. Os grandes açudes atraíram fazendas de criação de gado. Em
regiões como o Vale do São Francisco, a irrigação foi incentivada sem o uso de
técnica apropriada e o resultado tem sido desastroso. A salinização do solo é,
hoje, uma realidade. Especialmente na região onde os solos são rasos e a
evaporação da água ocorre rapidamente devido o calor, a agricultura tornou-se
impraticável.
Outro problema é a contaminação das águas por agrotóxicos.
Depois de aplicado nas lavouras, o agrotóxico escorre das folhas para o solo,
levado pela irrigação, e daí para as represas, matando os peixes. Nos últimos
15 anos, 40 mil km2 de
Caatinga se transformaram em deserto devido à interferência do homem sobre o
meio ambiente da região. As siderúrgicas e olarias também são responsáveis por
este processo, devido ao corte da vegetação nativa para produção de lenha e
carvão vegetal.
2 - CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS DA CAATINGA
Em relação aos indivíduos solos, existem vários sistemas de
classificação. O Brasil, através do Sistema Nacional de Classificação dos Solos
(1999), está desenvolvendo um sistema de classificação ao qual tem sofrido
modificações muito rápidas. Dentre as características usadas para classificação
dos solos brasileiros, existem os horizontes diagnósticos, que são extremamente
importantes tanto do ponto de vista da sistematização dos solos, como também de
grande interesse prático. Esta caracterização é feita por uma pequena porção da
superfície da terra que possui horizontes ou camadas, que nos permite a
interpretação, identificação, classificação do solo. Esses horizontes e camadas
são nomeados com letras, nesse caso podemos dividir proximadamente os
horizontes e camadas do perfil. A natureza e o número de horizontes variam de
acordo com os diferentes tipos de solo. Os solos geralmente não possuem todos
esses horizontes bem caracterizados, entretanto, pelo menos possuem parte deles
(OLIVEIRA, 1992)
2.1 - PERFIL DO SOLO:
Oliveira (1992) definiu os perfis do solo em:
Horizonte O: camada orgânica superficial. É constituído por
detritos vegetais e substâncias húmicas acumuladas na superfície, ou seja, em
ambientes onde a água não se acumula (ocorre drenagem). É bem visível em áreas
de floresta e distingui-se pela coloração escura e pelo conteúdo em matéria
orgânica (cerca 20%).
Horizonte A: camada mineral superficial adjacente à camada O ou
H. É o horizonte onde ocorre grande atividade biológica o que lhe confere
coloração escurecida pela presença de matéria orgânica. Existem diferentes
tipos de horizontes A, dependendo de seus ambientes de formação. Esta camada
apresenta maior quantidade de matéria orgânica que os horizontes subjacentes B
e C.
Horizonte E ou B: camada mineral situada mais abaixo do
horizonte A. Apresenta menor quantidade de matéria orgânica, e acúmulo de
compostos de ferro, argila e minerais. Ocorre concentração de minerais
resistentes, como quartzo em pequenas partículas (areia e silte). É o horizonte
de máximo acúmulo, com bom desenvolvimento estrutural.
Horizonte C: camada mineral de material inconsolidado, ou seja,
por ser relativamente pouco afetado por processos pedogenéticos, o solo pode ou
não ter se formado, apresentando-se sem ou com pouca expressão de propriedades
identificadoras de qualquer outro horizonte principal.
Horizonte R: camada mineral de material consolidado, que
constitui substrato rochoso contínuo ou praticamente contínuo, a não ser pelas
poucas e estreitas fendas que pode apresentar (rocha).
A presença dos vários tipos de horizontes mencionados está
subordinada às condições que regulam a formação e evolução do solo. Como as
condições variam de acordo com as circunstâncias do ambientes (material de
origem, vegetação, clima, relevo, tempo) o tipo e número de horizontes de um
perfil de solo são diferentes.
A qualidade do solo de define pela: espessura (quanto mais
espesso for, maior será o tempo a ser explorado) e fertilidade (solos férteis
são aqueles que possuem minerais e matéria orgânica, os solos inférteis
necessitam de adubação).
2.2 - CLASSES DE SOLOS DA CAATINGA
As diferentes características dos solos permitem compará-los e
classificá-los. A classificação dos solos da caatinga conforme Jacomine (2002)
é:
2.2.1 – LATOSSOLOS
Destacam-se os latossolos amarelos e os vermelho-amarelo. Ocupam
grandes extensões no Sul do Piauí, sertão da Bahia e de Pernambuco (156.721
km²). Apresentam relevo suave, grande profundidade, alta permeabilidade e baixa
capacidade de troca catiônica. São solos profundos, drenados, porosos, friáveis
e com baixos teores de matéria orgânica. Ocorre a predominância de óxidos de
ferro, de alumínio e caulinita, que é uma argila de baixa atividade, sendo
predominante na fração argila dos latossolos. Esta combinação química, juntamente
com matéria orgânica e alta permeabilidade e aeração conferem ao latossolo uma
estrutura fina, muito estável que facilita o cultivo. Em caso de compactação
subsuperficial, a erodibilidade destes solos aumenta, exigindo cuidados
redobrados no seu manejo. Dentro da classificação de latossolos, ainda existe
uma subdivisão, ou seja, eles podem ser classificados de acordo com sua
coloração, a qual reflete maior ou menor riqueza em óxidos de ferro.
2.2.2 - PODZÓLICOS OU ARGISSOLOS
São solos profundos e menos intemperizados do que os Latossolos
podendo apresentar maior fertilidade natural e potencial. Ocupam os estados do
Ceará, Bahia, Pernambuco, rio Grande do Norte e Paraíba (110.00km²). São solos
moderamente profundos a bem drenados. Esses solos são desenvolvidos basicamente
a partir de produtos da intemperização de arenitos, com seqüência de horizontes
A, B e C bem diferenciados e com suas transições geralmente bem definidas. A
principal característica deste solo é a diferença textural entre os horizontes A
e B, visto que no horizonte B concentra-se teor mais elevado de argila do que
no horizonte A, onde, entretanto, a atividade biológica apresenta-se intensa. O
acúmulo de argila no horizonte B torna os solos podzólicos menos permeáveis,
portanto mais propensos à erosão hídrica;
2.2.3 - BRUNOS NÃO
CÁLCICOS
São solos rasos a pouco profundos, bem drenados, com espessura
ao redor de 50cm. Ocupam grandes extensões dos Estados do Ceará, Paraíba,
Pernambuco e Rio Grande do Norte (98.938km²). Solos ricos em bases, B textural
de cor vermelha ou bruno avermelhada. São poucos espesso, maciço ou estrutura
fracamente desenvolvida. Solos minerais, não hidromórficos, com argila em alta
atividade. Moderamente ácidos a praticamente neutros com pH 6,0 a 7,6 e com
saturação por bases.
2.2.4 - PLANOSSOLOS
Solos rasos a pouco profundos com horizonte superficial de cores
claras e textura mais leve, contrastando com o horizonte B mais argiloso,
adensado, pouco permeável, com cores de redução, acinzentadas com ou sem
mosqueado em decorrência da lenta permeabilidade e das condições imperfeitas ou
más de drenagem. Ocupam, sobretudo, a zona do Agreste de Pernambuco e áreas de
clima similar ao dos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia,
Sergipe e Paraíba (68.188k²).
2.2.5- SOLONETZ-SOLONIZADO
Solos pouco desenvolvidos, rasos a muito rasos, possuindo apenas
um horizonte A diretamente sobre a rocha (R), ou sobre materiais desta rocha em
grau mais adiantado de intemperização. Nestes solos pode-se, constatar, pois,
seqüência de horizontes A-C-R ou A-R e, por vezes, o início da formação de um
horizonte (B) incipiente.Estes solos podem ser eutróficos ou distróficos, quase
sempre apresentando bastante pedregosidade e rochosidade na superfície. Possuem
drenagem variando de moderada a acentuada e são, comumente, bastante susceptíveis
à erosão, em decorrência de sua reduzida espessura.Os de caráter eutrófico
possuem, no horizonte A ou AC, reação moderadamente ácida a praticamente
Destacam-se nas margens do rio São Francisco entre Xique-Xique e Sento Sé, BA;
a leste do rio Real no município de Tobias Barreto, SE; a oeste de Angicos e
sudoeste de Açu, RN; nos municípios de Soledade e Juazeirinho, PB e parte do CE
(10.312km²). Caracterizam-se por uma concentração elevada de sódio e outros
sais solúveis. São comuns nas partes baixas do relevo nas regiões áridas,
semi-áridas e naquelas próximas do mar. São desprovidos de cobertura vegetal
devido à elevada salinidade.
2.2.6 – SOLONCHAKS
São solos salinos que apresentam altas concentrações em sais
solúveis, tendo consequentemente a elevada condutividade elétrica do extrato de
saturação. Durante o período seco é bastante freqüente encontrar crostas de
sais cristalinos à superfície do solo ou na parte das trincheiras. O horizonte
superficial é pouco espesso e apresenta cores desde tonalidades claras até
pretas, o horizonte C de cores acinzentadas, bruno-amareladas e até pretas, com
ou sem mosqueados proeminentes. A textura é variável de arenosa até argilosa. O
pH é moderamente alcalino (7,0 a 8,0). Compreendem áreas baixas da zona
costeira onde há influencia de lençol freático salgado e em várzeas do interior
da zona semi árida, destacando-se o litoral do CE, próximo à desembocadura dos
rios Jaguaribe, Piranji, Aracatiaçu, Aracatimitim, Acaraú, Coreaú, entre
outros. Ocupam áreas litorâneas do Rio grande do Norte, destacando-se as dos
rios Mossoró e Açu. Total de área ocupada 1.625 km².
2.2.7 - CAMBISSOLOS
OU PODZÓLICOS
São solos pouco desenvolvidos em relação aos Latossolos e
Podzólicos. Apresentam horizonte B em formação. São rasos e de elevada erodibilidade
podendo em curto espaço de tempo ocorrer exposição de subsolo. A fertilidade do
horizonte A está condicionada ao tipo de rocha formadora inicial. São
desenvolvidos a partir de diversas rochas, destacando-se os calcários, granitos
e migmatitos, em área de relevo variando de plano a forte ondulado, sob
vegetação do tipo hipo e heperxerófila. Por serem muito susceptíveis à erosão,
normalmente não permitem um uso intensivo podendo, em condições naturais, ser
observada a ocorrência de erosão laminar moderada, ou severa, bem como em
sulcos e voçorocas. Predominam solos de alta fertilidade natural, com grande
potencial agrícola. Ocupam áreas da Bahia, Rio Grande do Norte e demais estados
do NE (27.500 km²)
2.2.8 – VERTISSOLOS
São solos argilosos que se caracterizam por apresentar
pronunciadas mudanças em volume resultantes da grande movimentação da massa de
solo que se contrai e fendilha quando seco e se expande quando molhado,
tornando-se muito plástico e pegajoso. São solos rasos a profundos, com moderada
ou imperfeitamente drenados, de permeabilidade lenta ou muito lenta, baixa
condutividade hidráulica e horizonte superficial pouco desenvolvido, com baixos
teores de matéria orgânica. Ocupam áreas planas, suavemente onduladas,
depressões e locais de antigas lagoas. Na região da caatinga destacam-se as
áreas de Juazeiro e Baixio do Irecê na Bahia e Souza na Paraíba, ocupando uma
extensão total de 10.187 km² da região das caatingas.
2.2.9 - AREIAS QUARTIZOSAS
Solos arenoquartizosos profundos ou muito profundos,
excessivamente drenados, de cores desde vermelhas até quase brancas, sendo
freqüentes as cores amarelas. São ácidos ou muito ácidos com pH de 4,5 a 5,5 e
apresentam baixa fertilidade natural. São pobres, praticamente sem reservas de
minerais primários pouco resistentes ao intemperismo que possam constituir
fonte de nutrientes para os vegetais. Ocupam maiores extensões nos estados do
Piauí, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará, totalizando uma área de
69.625 km².
2.2.10 – REGOSSOLOS
Solos minerais pouco desenvolvidos, pouco profundos a profundos,
tendo seqüência horizontes A, C, com teores médios a altos de minerais
primários menos resistentes ao intemperismo. São arenosos, cascalhentos ou não,
de cores acinzentadas claras, excessivamente drenados, com horizontes pã. O pH
varia de 5,0 a 6,0, podendo ser encontrado entre 4,0 a 5,0 no agreste
Pernambucano. Presentes em todos os estados, porem ocupam maiores extensões nos
Estados da Bahia, Alagoas e Pernambuco, totalizando 32.750 km² de extensão.
2.2.11 – LITÓLICOS
São solos minerais muito pouco desenvolvidos, muito rasos (20 a
30cm), que se caracterizam por apresentarem o horizonte A assentado diretamente
sobre a rocha. Situam-se nas áreas montanhosas. Os locais onde ocorrem este
tipo de solos são, normalmente, destinados às áreas de preservação permanente.
Via de regra são pedregosos e/ou rochosos, moderamente a excessivamente
drenados. O pH varia entre 4,5 a 6,5. Distribuem-se por toda a zona semi árida,
usualmente em áreas mais acidentadas com afloramentos de rocha, totalizam uma
área de 143.374 km² de extensão.
2.2.12 – RENDZINAS
São solos minerais rasos, moderada a imperfeitamente drenados,
derivados de calcários, caracterizados fundamentalmente pela presença de um
horizonte A chernozênico sobrejacente e um horizonte C rico em carbonatos,
possuindo pH neutro variando de 8,0 a 8,5, tendendo a aumentar a profundidade,
com elevada saturação por bases e alta capacidade de troca de cátions. Ocupam
uma área inexpressiva restrita à parte da chapada do Apodi no Rio Grande do
Norte e o oeste de Irecê na Bahia, totalizando uma área de 2.125 km².
2.2.13 - ALUVIAIS
São solos pouco desenvolvidos, provenientes de sedimentos,
geralmente de origem fluvial, apresentando grande heterogeneidade entre si,
como também ao longo do seu perfil. Ocorrem em relevo plano, várzeas e em áreas
próximas aos rios. Suas maiores limitações de uso referem-se aos riscos de
inundações periódicas e elevação do lençol freático (VELLOSO, 1992). Uma vez
que esses solos apresentam horizonte A diretamente assentado sobre o horizonte
C, todos os cuidados devem ser tomados nos trabalhos de sistematização para
uso. Excessivos cortes podem expor o horizonte C, reduzindo a capacidade
produtiva. Ocupam uma área de 15.937 km² distribuídas por toda a região das
caatingas ao longo de cursos d`água, destacando-se as áreas ribeirinha dos rios
São Francisco, Jaguaribe, Gurguéia, Canindé, Piauí, Acaraú e Açu.
2.2.14 - BRUNIZÉNS AVERMELHADOS
São solos bem drenados, rasos ou de profundidade média, de cores
vermelhas a bruno-avermelhadas, com horizonte superficial de cores escuras,
teores elevadas em matéria orgânica e alta saturação por bases, correspondendo
ao horizonte A chernozênico. A textura do horizonte A é mais leve que a do B, o
qual é argiloso. São pouco expressivos na zona da caatinga ocorrendo apenas na
parte central do Ceará, Piauí e Bahia (1.312 km² de extensão).
3 – MANEJO DOS SOLOS DA CAATINGA
Os diferentes tipos de solos proporcionam diferentes tipos de
substratos, e por este motivo, a cobertura vegetal de uma área modifica-se de
acordo com as características do terreno. As plantas conferem proteção ao solo,
reduzindo o impacto das chuvas, diminuindo a velocidade da água através da copa
das árvores e das raízes. Mesmo as folhas caídas contribuem para diminuir a
ação da água no solo agindo como cobertura. Assim, a remoção de cobertura
vegetal de forma não planejada é um dos principais fatores que podem
desencadear a erosão, ou seja, o processo de desagregação e remoção de
partículas do solo ou fragmentos de rocha, pela ação combinada da gravidade com
a água, vento, gelo ou organismos. Muitas vezes, a quebra deste equilíbrio
natural entre o solo e o ambiente (remoção da vegetação, desvio de cursos
hídricos, etc) promovida e acelerada pelo homem, expõe o solo a formas menos
perceptíveis de erosão, que promovem a remoção da camada superficial deixando o
subsolo (geralmente de menor resistência) sujeito à intensa remoção de
partículas, o que culmina com o surgimento de voçorocas (DUQUE, 1980).
Segundo Araújo Filho (2002) as atividades de exploração da
caatinga pela agricultura indígena parecem não ter deixado efeitos marcantes
sobre os recursos naturais renováveis do bioma, em virtude de sua baixa
intensidade e de seu caráter errático. A ocupação pela exploração pastoril, a
partir de 1635, do “desertão” (hoje, sertão), assim chamado por causa da
ausência da colonização humana, trouxe a tiracolo a agricultura itinerante do
desmatamento e das queimadas e a extração da lenha, par atender à demanda por
alimentos da crescente população humana. Quando os processos erosivos não são
controlados ou estabilizados, estes podem acarretar um pesado ônus à sociedade.
Além de danos ambientais irreversíveis, produz também prejuízos econômicos e
sociais, como por exemplo: diminuição da produtividade agrícola, redução da
produção de energia elétrica e do volume de água para abastecimento urbano
devido ao assoreamento de reservatórios; ameaçar obras viárias e áreas urbanas,
além de uma série de transtornos aos demais setores produtivos da economia.
Conforme Jacomine (1996) os solos mais comumente em uso sob esses
sistemas são os das classes dos argissolos, luvissolos e latossolos, que juntos
recobrem cerca de 50% do Semi-Árido Nordestino. São solos de adequadas
características químicas e físicas, com bom potencial para a agricultura. As
culturas tradicionalmente exploradas constam de milho, feijão, gergelim,
mandioca, aipim, fava, melancia, jerimum, pepino, algodão e várias outras,
sempre consorciadas, dependendo da região. As práticas de preparação da terra
têm sido as mesmas nos últimos 350 anos, ou seja, seguindo o roteiro da
agricultura migratória, com desmatamento total e queimada, exploração por dois
a três anos e pousio. A produção de madeira útil, que é retirada para consumos
diversos, de garranchos e da serapilheira varia de acordo com o estádio sucessional
da vegetação. Assim, em áreas de caatinga arbustiva, que recobre nos dias
atuais acima 60% do território da maioria dos estados nordestinos, normalmente
não há madeira a ser retirada. Todo o material vegetal é queimado. A quantidade
de garranchos consumida pelo fogo nessa situação é de, aproximadamente, 16,0
t/ha, além de cerca de 4,0 t/ha de serapilheira. Quando a vegetação se encontra
na fase sucessional arbustiva-arbórea, que constitui cerca de 30% da cobertura
florística da área de grande parte dos estados nordestinos, de 40,0 a 60,0
estéreos de lenha são retirados por hectare, correspondendo a cerca de 20,0 a
30,0 toneladas de madeira. Além disso, ficam no solo para serem consumidos pelo
fogo cerca de 10,0 toneladas de garranchos por hectare, além de até de 6,0 t/ha
de serapilheira. No caso das áreas recobertas com caatinga arbórea, que
correspondem a menos de 10% da superfície da maioria dos estados nordestinos, a
produção de madeira útil acumulada pode alcançar cerca de 100,0 t/ha,
permanecendo no solo para a queima até 18,0 t/ha de garranchos e 12,0 t/ha de
serapilheira. Durante o curto período de cultivo, anualmente as rebrotações dos
tocos sobreviventes são cortadas e, juntamente com os restolhos culturais ainda
existentes em campo, queimados em coivaras. A erosão é o problema mais grave de
insustentabilidade dos sistemas de uso do solo no semi-árido, porque as perdas
de solo são quase que absolutamente irreversíveis. Ele é agravado pela grande
extensão de solos rasos, muitos com baixa permeabilidade, e pela ocorrência
freqüente de chuvas intensas na curta estação chuvosa. As áreas abertas para
cultura antes da época de chuvas muitas vezes recebem estas precipitações
intensas antes de qualquer cobertura de plantas. As evidências de erosão são as
águas barrentas dos cursos de água, as voçorocas nos declives de solos mais
profundos e as pequenas colunas que se formam sob pedras da superfície,
sinalizando a posição anterior da camada de solo. Um dos aspectos perversos da
erosão é que perdas grandes de solo, se não formam voçorocas e são mais
laminares, podem corresponder a uma lâmina pouco profunda de solo. As perdas de
maior dimensão no semi-árido correspondem a um pouco menos de 1 cm de solo. A
erosão depende de vários fatores, além do regime de chuvas e da cobertura de
plantas, sendo o principal a declividade do solo. Se o solo tiver uma
fertilidade natural ou estrutura fracas, tem de ser continuamente (alimentado)
com matérias orgânicas, tais como as folhas e o estrume, a fim de melhorar a
sua produtividade e a sua capacidade de retenção de água. À medida que as
matérias orgânicas se decompõem, constituem alimento para as plantas. Também
melhoram a estrutura do solo ao amolecerem a argila pesada e ao ligarem o solo
arenoso.
Segundo Araújo Filho (2000) formas de enriquecer o solo com
matéria orgânica é particularmente importante nos primeiros anos do
desenvolvimento da horta. A matéria orgânica (por exemplo, os restos de plantas
e de animais) podem ser recolhidas e enterradas no solo, onde se vai decompor.
Também se pode utilizar a matéria orgânica para fazer composto, que poderá ser
aplicado no solo para o tornar mais fértil. As raízes das leguminosas contêm
bactérias que fixam o azoto. Assim, cultivar leguminosas em associação ou em
rotação com outras culturas ajuda a manter ou a melhorar o conteúdo do solo em
azoto, favorecendo o crescimento de outras plantas. A aplicação de matérias
orgânicas, tais como o composto, o estrume animal, o adubo verde e o solo das
térmitas, melhora a estrutura do solo e adiciona-lhe nutrientes. O sistema da
cultura em diferentes níveis, em que se cultivam em conjunto árvores e plantas
com diferentes tempos de maturação, permite proteger o solo e reciclar os
elementos nutritivos. As leguminosas, tal como o amendoim e o feijão, são
particularmente úteis, porque fornecem permanentemente elementos nutritivos às
culturas. O plantio de bancos de proteína (áreas plantadas com leguminosas
resistentes à seca, cujo material é rico em proteínas) juntamente com o
raleamento seletivo da caatinga e rebaixamento tem mostrado resultados
positivos para boas práticas de manejo do solo e da caatinga.
Os solos arenosos como os Neossolos Quartzarênicos (antigas
Areias Quartzosas) são caracterizados por terem grande quantidade de poros
grandes (macroporos) que permitem a rápida infiltração e drenagem interna da
água no perfil do solo. Essa condição impõe alguns cuidados que devem ser
tomados no momento da adubação para evitar a perda de dinheiro e tempo nesta
atividade agrícola (BRADY, 2002).
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A grande diversidade dos solos sob o bioma caatinga são
demonstrações patrimoniais únicas que devem ser preservados contra a erosão
hídrica, a perda da matéria orgânica e a elevação do lençol freático (em áreas
irrigadas). O fator antrópico tem interferido nas condições ecológicas da
vegetação através de manejos desordenados com cortes da vegetação, queimadas,
lavouras e pecuária acelerando os processos erosivos. Tem-se então urgentemente
que consorciar boas práticas de manejo, que foram desenvolvidas ao longo de
pesquisas, para preservar esse tesouro que ainda resta para a humanidade.
Nesse link é possível visualizar os tipos de solo do Nordeste.
Muito boa a reportagem!!! Parabéns
ResponderExcluirValeu cara muito obrigado.
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